O transporte marítimo desempenha um papel central no comércio global, movimentando cerca de 80% do volume do comércio internacional de mercadorias, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Nesse fluxo, o transporte marítimo de produtos químicos ocupa um nicho significativo devido ao papel essencial das substâncias em diversos setores, como agricultura, farmacêutica, energia, petroquímica, mineração e manufatura.
O transporte marítimo de produtos químicos envolve tanto produtos químicos líquidos a granel, transportados por navios-tanque especializados, quanto produtos químicos em contêineres, transportados em tambores ou Contêineres Intermediários para Granéis (IBCs).
A complexidade e o potencial de risco de muitos produtos químicos exigem medidas rigorosas de segurança química, do trabalho, ambiental e regulatória, o que agrega valor estratégico e operacional a esse setor logístico.
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Nos últimos anos, tanto a demanda global por produtos químicos quanto o volume de transporte marítimo de produtos químicos têm apresentado crescimento constante.
A movimentação portuária no Brasil atingiu um novo recorde em 2024, com um total de 1,32 bilhão de toneladas, o que representa um crescimento de 1,18% em relação ao ano anterior, segundo o governo.
Os portos públicos tiveram o melhor desempenho desde o início do levantamento, com um aumento de 5,13% e um total de 474,4 milhões de toneladas movimentadas. Os portos de Santos (SP), Itaguaí (RJ) e Paranaguá (PR) foram os que mais se destacaram, com altas de 2,05%, 8,78% e 1,65%, respectivamente.
O resultado histórico é reflexo de investimentos estratégicos em modernização, eficiência e sustentabilidade dos portos. Em 2024, foram investidos mais de R$1 bilhão na modernização e expansão da infraestrutura portuária, e a expectativa para este ano é de R$1,7 bilhão.
Principais tipos de produtos químicos transportados
No Brasil e no mundo, os principais produtos químicos transportados por via marítima incluem petróleo e derivados, petroquímicos, substâncias inorgânicas e produtos químicos orgânicos. Essas substâncias são transportadas em diversos tipos de navios-tanque e embarcações especializadas, sendo o petróleo bruto e seus derivados os mais expressivos.
Esses produtos são altamente diversos e podem ser agrupados em três categorias principais, com base em suas características físicas e químicas, potencial de risco e uso. Aqui está uma análise:
1. Produtos Químicos Orgânicos
São compostos à base de carbono, amplamente utilizados em produtos industriais e de consumo. Eles representam uma parcela significativa do comércio global de produtos químicos.
Exemplos comuns: álcoois (por exemplo, metanol, etanol, isopropanol), aromáticos (por exemplo, benzeno, tolueno, xileno), cetonas (por exemplo, acetona, MEK), ácidos e ésteres (por exemplo, ácido acético, acetato de etila).
Principais usos – Plásticos, solventes, tintas, produtos farmacêuticos, combustíveis, adesivos.
2. Produtos Químicos Inorgânicos
São frequentemente corrosivos ou reativos. Seu transporte por via marítima requer manuseio especial devido à toxicidade ou volatilidade.
Exemplos comuns: ácido sulfúrico, ácido nítrico, soda cáustica (hidróxido de sódio), peróxido de hidrogênio, amônia (anidra ou aquosa), ácido clorídrico.
Principais usos – Fertilizantes, detergentes, tratamento de água, mineração, metalurgia, celulose e papel.
3. Petroquímicos e Derivados
São derivados do petróleo e do gás natural e formam a base de muitos processos químicos.
Exemplos comuns: nafta, etileno, propileno, butadieno, estireno, etileno glicol, óleos básicos e aditivos para lubrificantes
Principais usos – Resinas plásticas, fibras sintéticas, borrachas, anticongelantes e aditivos para combustíveis.
Principais riscos no transporte marítimo de produtos químicos
O transporte marítimo de produtos químicos enfrenta diversos riscos significativos devido à natureza perigosa de muitos produtos químicos e às complexidades do transporte.
Esses riscos podem resultar de acidentes como encalhes, colisões ou falhas mecânicas e podem levar a consequências graves, como fatalidades, ferimentos e danos ambientais significativos.
A seguir, uma visão mais detalhada dos principais riscos envolvidos:
1. Explosões
Produtos químicos como explosivos, gases inflamáveis e certos líquidos inflamáveis podem explodir durante o transporte, especialmente se manuseados incorretamente ou expostos a fontes de ignição.
2. Incêndio
Líquidos e sólidos inflamáveis, bem como substâncias que podem reagir com o ar ou a água para produzir calor, podem facilmente inflamar e causar incêndios a bordo.
3. Liberação Tóxica
Substâncias tóxicas e infecciosas podem ser liberadas no meio ambiente, potencialmente prejudicando humanos, a vida marinha e os ecossistemas.
4. Derramamentos
Acidentes podem levar ao derramamento de produtos químicos no mar, contaminando a água e potencialmente prejudicando a vida marinha e as áreas costeiras.
5. Danos Ambientais
Produtos químicos podem ter impactos de longo prazo no ambiente marinho, incluindo bioacumulação, persistência na coluna d’água e toxicidade para vários organismos.
6. Reatividade
Alguns produtos químicos reagem violentamente entre si, com a água ou com o ar. Se produtos químicos incompatíveis forem armazenados ou manuseados juntos, isso pode levar a reações perigosas, incluindo explosões e incêndios.
7. Substâncias Incompatíveis
A mistura de produtos químicos incompatíveis durante o transporte pode criar situações perigosas. Procedimentos adequados de segregação e manuseio são cruciais para prevenir tais incidentes.
É importante ressaltar que o transporte marítimo de produtos químicos requer atenção especial e o cumprimento rigoroso de normas e procedimentos de segurança.
Legislação e normas aplicáveis ao transporte marítimo
O transporte marítimo de produtos químicos é regido por diversas convenções e regulamentações internacionais e nacionais, elaboradas para garantir a segurança das pessoas, da embarcação e a proteção ambiental. A seguir, as principais normativas e órgãos.
Regulamentações Nacionais:
- Autoridade Marítima Brasileira (DPC) – A Diretoria de Portos e Costas do Brasil emite regulamentos e normas que incorporam requisitos internacionais para o transporte marítimo no Brasil.
- NORMAM-29/DPC (Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil) – Estabelece os requisitos para o transporte e armazenamento de cargas perigosas em mar aberto, incluindo requisitos para embarcações e procedimentos em caso de emergências.
- NORMAM-05/DPC e NORMAM-203/DPC – Regulamentam a operação de embarcações em águas jurisdicionais brasileiras, incluindo requisitos para o transporte de produtos perigosos.
- ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquáticos) – A ANTAQ regulamenta o transporte marítimo no Brasil, incluindo requisitos de segurança e ambientais para o transporte de produtos químicos e operações portuárias. Inclui disposições alinhadas às convenções da IMO e normas nacionais específicas para movimentação de cargas perigosas.
- IBAMA – O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emite a Autorização Ambiental para Transporte de Produtos Perigosos, documento obrigatório para o transporte marítimo e interestadual de produtos perigosos.
- Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) – A CNEN estabelece normas específicas para acondicionamento, testes e transporte de materiais radioativos no Brasil.
Saiba mais: Assessoria de segurança química: o que é Chemical Compliance e como se adaptar à legislação?
Regulamentações Internacionais:
- IMO (International Maritime Organization) – É uma agência especializada das Nações Unidas, responsável por lidar com todos os procedimentos técnicos relacionados ao transporte marítimo em todo o mundo.
- Código IMDG (International Maritime Dangerous Goods Code) – Desenvolvido pela IMO, este código é a base para o transporte marítimo de mercadorias perigosas, fornecendo diretrizes detalhadas para classificação, embalagem, rotulagem, estiva e documentação. É atualizado regularmente para refletir as melhores práticas do setor e os avanços tecnológicos.
- Convenção SOLAS (Safety of Life at Sea) – Esta convenção se concentra em garantir a segurança da vida humana no mar, incluindo disposições relacionadas ao transporte de mercadorias perigosas em navios.
- Convenção MARPOL (International Convention for the Prevention of Marine Pollution) – Visa prevenir a poluição do meio ambiente marinho, incluindo disposições que abordam o transporte de produtos químicos e outras substâncias nocivas por mar.
- Código IBC (Código Internacional de Produtos Químicos a Granel) – Estabelece as normas internacionais para o transporte seguro, a granel, por mar, de produtos químicos perigosos e substâncias líquidas nocivas. O Código prescreve o projeto e um padrão de construção para navios envolvidos no transporte de produtos químicos líquidos a granel e identifica os equipamentos a serem transportados para minimizar os riscos para o navio, sua tripulação e o meio ambiente, no que diz respeito à natureza dos produtos transportados.
Boas práticas para o transporte marítimo seguro
Garantir uma logística segura no transporte marítimo de produtos químicos exige uma combinação de procedimentos rigorosos, treinamento, equipamentos e conformidade regulatória. Aqui está uma lista completa de boas práticas amplamente recomendadas e adotadas internacionalmente.
1. Classificação, Embalagem e Documentação Adequadas
Classifique os produtos químicos com precisão de acordo com as categorias do Código IMDG da IMO. Use embalagens e recipientes adequados e resistentes às propriedades do produto químico. Prepare e verifique todos os documentos de embarque (por exemplo, Declaração de Mercadorias Perigosas) cuidadosamente.
2. Uso de Embarcações e Equipamentos Especializados
Utilize navios-tanque para produtos químicos projetados de acordo com o Código IBC, com tanques segregados, materiais resistentes à corrosão e sistemas de segurança adequados. Garantir que as embarcações possuam sistemas de contenção de derramamentos, sistemas de gás inerte e equipamentos de combate a incêndio adequados para cargas químicas.
3. Treinamento e Competência da Tripulação Qualificada
Forneça treinamento contínuo sobre riscos químicos, resposta a emergências, procedimentos de manuseio e normas da IMO. Conduza simulações e exercícios regularmente para cenários como derramamentos, incêndios ou vazamentos de gases tóxicos.
4. Procedimentos Seguros de Carregamento, Estocagem e Descarga
Siga protocolos rigorosos para carregamento, temperatura, monitoramento de pressão e inspeções de tanques. Garantir a segregação adequada de produtos químicos incompatíveis durante a estiva. Utilizar instalações portuárias especializadas com medidas de prevenção e contenção de derramamentos.
5. Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
Exija que os trabalhadores que manuseiam produtos químicos usem EPIs adequados, como luvas, óculos de proteção, respiradores e roupas resistentes a produtos químicos. Forneça postos de segurança com chuveiros de descontaminação e lava-olhos.
6. Monitoramento Atmosférico e de Vazamentos
Implemente o monitoramento contínuo da atmosfera dos tanques para gases tóxicos ou inflamáveis. Utilize sistemas de detecção de vazamentos e realize inspeções regulares.
7. Planos de Preparação e Resposta a Emergências
Mantenha planos detalhados de resposta a emergências, abordando derramamentos, incêndios e exposições. Coordene com as equipes de emergência portuárias, guarda costeira e órgãos ambientais. Equipe embarcações e terminais com kits de derramamento, sistemas de supressão de incêndio e suporte médico.
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8. Conformidade Regulatória e Auditorias
Garanta a estrita adesão às convenções da IMO, regulamentações nacionais (por exemplo, ANTAQ no Brasil) e normas das autoridades portuárias. Realize auditorias e inspeções regulares por autoridades qualificadas e terceiros.
9. Medidas de Proteção Ambiental
Previna descargas aderindo às normas de descarga do Anexo II da MARPOL. Promova o uso de produtos químicos ecologicamente corretos e práticas de logística verde sempre que possível.
10. Comunicação e Coordenação
Mantenha canais de comunicação claros entre expedidores, tripulações de embarcações, operadores portuários e equipes de emergência. Compartilhe prontamente as Fichas de Informações de Segurança (FDS) e informações sobre riscos químicos.
O transporte marítimo de produtos químicos de modo seguro necessita de planejamento meticuloso, adesão a regulamentações e protocolos de segurança robustos, para mitigar riscos e garantir o bem-estar da equipe e do meio ambiente.
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