O tetracloreto de carbono (CCl4), também conhecido como “tet” de carbono, tem uma história rica e complexa, com aplicações variadas ao longo do tempo. Por esse motivo, iremos falar dele hoje!
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Inicialmente usado como solvente, agente de limpeza e até mesmo como anti-helmíntico, sua utilização foi gradualmente restringida devido aos seus efeitos tóxicos e ambientais negativos.
O tetracloreto de carbono foi sintetizado pela primeira vez por Henri Victor Regnault em 1839, através da reação de clorofórmio com cloro. Posteriormente, outros métodos de síntese foram desenvolvidos, incluindo a reação de metano com cloro.
Antes de 1970, o tetracloreto de carbono era amplamente utilizado como fluido de limpeza em residências e indústrias. Também foi usado como fumigante de grãos e, posteriormente, na fabricação de propelentes e outros produtos químicos industriais.
Também foi testado como anestésico, mas foi abandonado devido à sua alta toxicidade. Posteriormente, foi utilizado como anti-helmíntico para parasitas e na veterinária para tratamento de cães.
A produção de tetracloreto de carbono foi comum até a década de 1980, com um pico de produção em 1992 estimado em 720 mil toneladas nos EUA, Europa e Japão.
Seus usos comerciais incluíam:
- Solvente para borracha;
- Agente de limpeza em lavagem a seco;
- Solvente em indústrias química e farmacêutica;
- Agente oclusivo em extintores de incêndio;
- Solvente em tintas, entre outros.
Proibição do tetracloreto de carbono
A produção e comercialização de tetracloreto de carbono foram proibidas nos países desenvolvidos a partir de 1996, e a proibição foi estendida aos países em desenvolvimento em 2010.
Essa medida se deve à sua toxicidade e aos riscos ambientais, incluindo a depleção da camada de ozônio.
Inclusive, o tetracloreto de carbono foi adicionado ao Protocolo de Montreal, um tratado internacional para proteger a camada de ozônio.
A contaminação por tetracloreto de carbono em locais como Cubatão, onde uma fábrica da Rhodia foi fechada, levou à formação de associações de combate à poluição orgânica persistente.
Preocupações em relação à saúde e segurança
A partir das décadas de 1960 e 1970, pesquisas começaram a destacar efeitos graves à saúde do tetracloreto de carbono, como:
- Tóxico para o fígado, rins e sistema nervoso central;
- Carcinogenicidade – classificado por muitas agências de saúde como provável ou possível carcinógeno humano;
- Perigo por inalação – causa tontura, narcose e danos potencialmente fatais com exposição prolongada.
Essas preocupações levaram ao estabelecimento de limites de exposição ocupacional e à substituição em muitas aplicações ou tecnologias mais seguras.
Ação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA)
Uma norma final da EPA exige que os empregadores adotem proteções trabalhistas para o solvente tetracloreto de carbono, ou CTC. A norma estabelece um limite de exposição química de 0,03 ppm, um nível de ação de 0,02 ppm e outras medidas de gestão de risco.
Essa norma também define um plano de proteção química no local de trabalho, descrito no regulamento.
Os elementos do plano incluem o monitoramento para garantir que ninguém seja exposto acima de 0,03 ppm como uma média ponderada de tempo de 8 horas, uma redução significativa em comparação com o limite de exposição permitido pela OSHA de 10 ppm. No Brasil, a Norma Regulamentadora 15 (NR 15) define um limite de 8 ppm.
Fica claro que existe uma grande preocupação em relação aos riscos à saúde e ao meio ambiente. O que exige medidas de prevenção cada vez mais rigorosas para o controle do manuseio do tetracloreto de carbono e a consequente proteção dos trabalhadores expostos.
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Impactos para empresas se adequarem ao novo limite de exposição
O novo limite de exposição ocupacional da EPA para tetracloreto de carbono (CCl₄) de 0,03 ppm (para 8 horas) tem implicações significativas para as empresas que fabricam, processam ou utilizam CCl₄.
Os impactos são tanto técnicos quanto econômicos, afetando as operações, as obrigações de conformidade e a gestão da força de trabalho.
1. Mudanças em Processos e Engenharia
Muitos sistemas de ventilação existentes não atenderão ao novo limite de exposição, podendo exigir ventilação local exaustora aprimorada; enclausuramento ou automação do processo para isolar os trabalhadores e uso de sistemas de circuito fechado para minimizar a liberação da substância.
As empresas podem migrar para alternativas menos perigosas (por exemplo, substituição para solventes à base de água) para evitar o alto custo de conformidade. Mudanças em pesquisa e desenvolvimento e formulação podem ser necessárias em setores como: síntese química, produção de intermediários farmacêuticos, desengorduramento de metais etc.
2. Novo Programa de Proteção Química no Local de Trabalho
As empresas devem implementar o plano da EPA, que inclui:
- Monitoramento da exposição, amostragem de ar inicial e contínua;
- Controles de proteção dérmica, incluindo luvas, roupas e instalações para lavagem da pele;
- Programa de Respiradores obrigatório, em que os controles de engenharia não conseguem manter a exposição ≤ 0,03 ppm;
- Publicação, controle de acesso e documentação das áreas de trabalho regulamentadas;
- Plano de Controle de Exposição, contemplando plano específico do local, atualizado anualmente;
- Treinamento e Comunicação, o que inclui treinamento claro sobre riscos, rótulos e atualizações da Ficha com Dados de Segurança.
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3. Impactos na força de trabalho
A demanda por treinamento aumenta para garantir o uso adequado de EPI e a conscientização sobre produtos químicos. Possíveis exames de saúde ou programas de vigilância médica. Em alguns casos, pode ser necessária a realocação ou modificação de função se os riscos de exposição não puderem ser controlados adequadamente.
Toxicologia do tetracloreto de carbono e saúde ocupacional
A exposição ao tetracloreto de carbono (CCl₄) apresenta sérios riscos à saúde e ao meio ambiente. Sua toxicidade afeta múltiplos sistemas orgânicos e pode ser aguda (curto prazo) ou crônica (longo prazo). Aqui está uma análise dos perigos:
A inalação é a principal via de exposição ocupacional e os sintomas podem ocorrer mesmo em baixas concentrações: dor de cabeça, tontura, náusea, fadiga e confusão. Em níveis elevados, pode ocorrer narcose, coma e morte. É altamente tóxico para o fígado (hepatotóxico). Causa esteatose hepática, necrose hepatocelular e insuficiência hepática
Causa depressão do SNC (semelhante à intoxicação alcoólica), com fala arrastada e incoordenação motora. Em altas doses, causa perda de consciência, coma.
A exposição crônica causa danos renais (nefrotóxico), aumento do risco de câncer (fígado, possivelmente outros órgãos) e toxicidade reprodutiva (em estudos com animais).
É irritante para os olhos e para a pele. Pode ser absorvido pela pele, o que leva a toxicidade sistêmica. O contato prolongado pode causar queimaduras químicas ou dermatite.
Classificado como Grupo 2B (possivelmente cancerígeno para humanos) pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer). Provavelmente cancerígeno para humanos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Estudos em animais mostram tumores no fígado com exposição prolongada.
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Importância do Monitoramento Biológico e Exames Médicos Periódicos
1. Monitoramento Biológico
Rastreia a absorção química interna e ajuda a avaliar a carga corporal real de tetracloreto de carbono, mesmo quando os níveis no ar estão baixos.
Vantagens – Captura tanto a exposição por inalação quanto a dérmica. Detecta danos subclínicos antes do aparecimento dos sintomas. Valida a eficácia dos EPIs e controles de engenharia.
2. Exames Médicos Periódicos
Permite a detecção precoce de efeitos tóxicos e previne danos irreversíveis. Deve incluir histórico ocupacional completo, testes de função hepática e renal, avaliação neurológica para efeitos no SNC, exame respiratório (especialmente se houver possibilidade de exposição a fosgênio) e triagem para uso de álcool, que potencializa a toxicidade
O principal objetivo do monitoramento e exames é:
- Prevenir doenças crônicas, como cirrose, insuficiência renal ou câncer;
- Permitir intervenção precoce;
- Proteger trabalhadores vulneráveis;
- Garantir a conformidade regulatória com as normas e legislação vigente.
É importante salientar que os novos limites impostos pela EPA ao tetracloreto de carbono (CTC) provavelmente terão impacto direto mínimo no Brasil, visto que o foco da EPA está no mercado americano e em suas regulamentações. Isso significa dizer que não há impacto sobre a documentação de segurança brasileira, por enquanto.
Há de se considerar que, esse tipo de mudança está baseada em estudos atualizados, e que a definição de controles e proteção mais eficazes devem ser consideradas, em qualquer ambiente de trabalho, onde o CCl4 esteja presente. Mesmo porque, sabemos que uma mudança dessa natureza poderá ser adotada em outras regulamentações, como a ACGIH, por exemplo, de uso corrente pelos profissionais de segurança.
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